terça-feira, 13 de setembro de 2016

MESA 1: Gestión Cultural para la Producción de Cultura Libre

Um projeto editorial livre: Ediciones de la Terraza

A mesa que inaugura o 1º Congreso On Line de Gestión Cultural discute a temática da gestão cultural para a produção de cultura livre. A partir de hoje (13.09) até o fim dessa semana, é possível acompanhar no site do Ártica – Centro Cultural On Line (http://goo.gl/RnpaBZ) as cinco palestras selecionadas e as perguntas lançadas para gerar o debate. Na próxima quinta (15.09), será realizada a videoconferência da mesa, onde as discussões trazidas pelos palestrantes serão ampliadas através da participação on line do público. A conferência será transmitida ao vivo, a partir das 16h (horário de Brasília e Santiago), no canal do Ártica no youtube (http://goo.gl/4SSM5w)

Foram escolhidos cinco projetos de promoção de cultura livre provenientes de São Paulo (Brasil), Córdoba (Argentina), Patagônia (Argentina) e Barcelona (Espanha). A ideia desta mesa é debater, através destes cinco exemplos, como se realiza um modelo de gestão cultural baseada nos critérios de colaboração, compartilhamento, difusão e acessibilidade ampla – ideias que se contrapõem a um modelo de gestão baseado na propriedade, no controle da difusão, na busca pela lucratividade que se associa ao controle de reprodução da informação.

Definindo a cultura livre como “um tipo de produção cultural que garante a livre disponibilidade, acesso, utilização e reutilização dos materiais e ferramentas produzidos”, a mesa propõe discutir cada prática que deriva desse pressuposto inicial observando os exemplos de cada um dos projetos selecionados. Estas práticas, em linhas gerais, se relacionam a modos de agir que tornam viável a produção cultural não voltada para fins lucrativos, baseada na ampliação e difusão do conhecimento, na formação de redes e na relação comunitária. O foco da discussão, portanto, se dará sobre como esses projetos realizam sua gestão a fim de tornar-se viáveis e cumprirem com os objetivos de fomentar uma produção cultural e tecnológica aberta e acessível.

Um destes projetos que, até o momento, me chamou mais a atenção é o Ediciones de La Terraza uma editora de Córdoba, Argentina. Surgida em 2012, a editora tem como objetivo a construção coletiva de suas publicações e a disponibilidade delas o mais amplamente possível. Propõem uma relação horizontal seja com os autores dos livros, seja com o público, constantemente estimulado a colaborar e participar da produção editorial (tanto através de financiamentos coletivos, como opinando nas escolhas editoriais). Obviamente, utilizam licenças creative commons e estimulam o acesso amplo às publicações.

O que me chamou a atenção nesse caso é uma constante afirmação do objeto-livro pelo grupo. Não se trata apenas de publicar e difundir, é um projeto de produzir livros-objeto, livros que sejam atraentes e desejáveis. Esse apelo para o livro na sua dimensão estética e a junção disso a uma reivindicação de liberdade de circulação são fatores bastante interessantes do projeto desta editora. Segundo Bárbara Couto, uma das fundadoras da editora: "Em Ediciones de la Terraza editamos livros daqueles que te chamam desde a estante. Livros que começas a desfrutar desde o momento em que começaste a folhear. Livros que entretêm desde a leitura até o seu aspecto visual. Destes que queres que todos vejam que tens para que queiram ter também. A leitura começa com a curiosidade e o desejo.”

Aparentemente se produz um paradoxo entre o apelo de ampliação do acesso, virtualizando os livros para disponibilizá-los on line, e essa reivindicação do objeto-livro quase fetichizado. É claro que o livro on line jamais terá esse caráter táctil e visual que o grupo enfatiza em suas publicações. Mas é nesse paradoxo que reside uma importante característica dessa editora: a produção de um objeto de fetiche, que provoca desejo, sem estar associado a uma noção de comercialização. O fato de enfatizarem o caráter estético e objetual dos livros (dão sempre prioridade aos livros ilustrados e enfatizam o cuidado com a encadernação) poderia facilmente relacioná-los a editoras comerciais que produzem objetos que rapidamente se tornam desejados e valorizados em um mercado editorial. Mas a ênfase, por outro lado, no uso das licenças creative commons, na busca pelo apoio em financiamentos coletivos e o desejo de devolver essa colaboração em rede disponibilizando o conteúdo do livro é algo que tira essa editora desse sistema de regulação da informação e do controle via comercialização. Essa experiência e seus resultados, quando melhores observados, podem contribuir para o grande debate gerado entre produção artística e uma relação com o mercado, sem com isso diminuir a importância da constituição estética e objetual da arte.

Porém, os editores admitem que não é tão fácil trabalhar com as licenças creative commons junto aos autores. Segundo Couto, a proposta de abertura da editora as vezes esbarra nos desejos e crenças individuais dos autores, provocando negociações e adaptações. Mas as negociações se dão em um nível de escolher qual licença commons o autor prefere trabalhar, estando sempre a possibilidade de ter que escolher alguma delas.

Aparentemente, Ediciones de La Terraza, em seus quatro anos, tem conseguido manter seu projeto editorial colaborativo em funcionamento. Segundo relato de Couto, os processos de compartilhamento vão gerando novas redes e propostas para a editora, gerando um movimento de retroalimentação. Um movimento de ampliação e difusão que vai atraindo novos agentes interessados em participar, mesmo sem a pretensão de “crescer”, “conquistar metas”, “atrair novos parceiros”. As palavras mais usadas nesse projeto, que se contrapõe a estas últimas - mais comuns no vocabulário comercial - são: parcerias, compartilhamento, colaboração e coletividade. A editora se pretende um projeto de produção estética e artística cujo único fim é ser fruída.

Na próxima quinta (15.09) iremos acompanhar a presença de Ediciones de La Terraza na videoconferência e tentar, durante o debate, descobrir em que condições a editora tem sobrevivido e se reproduzido, de que maneira os livros impressos são comercializados e/ou compartilhados e qual o verdadeiro alcance dessa iniciativa dentro de um processo de produção de redes. Sigam acompanhando o Blog Reflejo para saber mais. #GCultural2016


Para conhecer mais sobre Ediciones de La Terraza, clica aqui: http://edicioneslaterraza.com.ar/

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